Para os místicos, seria o cosmo. Para os religiosos, vontade de Deus. Para os neuróticos, uma conspiração. Para os pessimistas, o óbvio. Para os otimistas, uma fase. Para os que sofreram, uma dor. Para os que não sofreram, só mais um caso com mais alguém.
Seja lá como for, as pessoas gostam de arranjar explicações para as coisas que acontecem. Por que chove, do que são feitas as coisas, por que existimos, gostamos de saber tudo. Mas algumas coisas não são fáceis de serem entendidas e, simplesmente não merecem o esforço da nossa compreensão.
Ocorre que pessoas (estou falando de mim, certamente) que têm tudo o que querem sempre dão um jeito de reclamar do seu excessivo conforto. E esse post não é uma reclamação. Talvez dessa vez eu cumpra as promessas que faço à mim sempre que posso. Sempre prometo muitas coisas à mim, mas não cumpro quase nenhuma delas, digamos que - quando se trata de eu prometer a mim - eu não consigo honrar as minhas palavras.
Prometo sempre: "Esse ano! É esse ano! Esse é o ano que eu vou estudar!" ou então "Esse ano terei uma vida mais saudável!", ou ainda "Eu prometo que vou parar de reclamar da minha vida!", essas promessas são as mais frenquentes que jamais cumpri, em 20 anos de vida.
Acontece que estudar e ter uma vida mais saudável é, obviamente, uma questão de esforço, o qual a minha preguiça ataca com unhas e dentes, atando meus braços e pernas para que eu JAMAIS me deixe cair na tentação. Agora a RECLAMAÇÃO, essa não é assim tão fácil. Como já diz meu pai "Reclamar é um vício!", e de fato é!
A minha vida sempre foi ÓTIMA, nunca passei fome; fico doente facilmente, mas por sorte, meu pai sempre teve dinheiro para bancar bons médicos e bons remédios para mim; sempre estudei em colégio particular e bons; sempre ganhei presentes o ano inteiro; sempre saí para onde eu quisesse; sempre esbanjei o suor do rosto do meu pai. Não me orgulho de ser assim, aliás, fui criada assim. Mas a minha "vergonha-na-cara" me permite ter a decência de retribuir todo esse esforço do meu pai, lhe proporcionando uma futura velhice confortável.
Mesmo com essa vida perfeita, cheia de familiares, amigos e tudo - ou muito próximo de tudo - o que quero, eu sempre reclamei. Reclamo porque meus familiares folgam comigo, e porque não me ouvem. Reclamo porque as coisas simplesmente não saem como eu quero, e porque odeio determinadas coisas. Mas ontem, ontem eu estava feliz. Ô! Como estava! Não tinha do que reclamar! Meu sorriso - que ia de orelha a orelha - era tão grande que meus lábios sumiam acima dos dentes amarelados e levemente entortados. E quando tudo vai muito bem, certamente algo irá piorar.
Meu pai chegou em casa, faltavam 20 minutos para meia-noite. Ele estava, visivelmente, cansado da viagem que teve de fazer à trabalho na cidade de Avaré no interior do interior de São Paulo. Ele sentou na sua cadeira de rodas estrategicamente posicionada em frente ao elevador e se arrastou até a sala, onde pude notar os olhos vermelhos chorosos e decepcionado. Fiquei olhando para ele, sem dizer nada, esperando ele começar. Logo ele estava falando:
"- Sabe filha, hoje me ocorreu uma coisa que, NUNCA, em minha vida eu achei que fosse acontecer..."
Quando ele disse essa primeira frase pensei "Fudeu! Meu pai matou alguém atropelado!", mas antes que eu pudesse dar um salto do sofá para acudi-lo ele retornou a falar e dizia:
"- Eu havia ido até o meu cliente em Avaré, e ele me perguntou se eu preferia receber em dinheiro ou em depósito, eu pedi em dinheiro, porque dá última vez ele teve problemas com o depósito. Bem, antes de sair de lá, ele me pediu que - no caminho de volta - passasse em na casa da filha dele em São Paulo para deixar com ela uma caixa... Bom, era caminho, eu disse que tudo bem, e fui deixar a caixa para a menina."
Doía cada palavra, eu sei que doía. Meu pai não uma pessoas transparente, ele sabe disfarçar os problemas, as tristezas. Ele - mesmo quando está perdido demais - não dá nenhum sinal do seu estado emocional, mas ontem estava visível.
"-Deixei a caixa na casa dela, virei numa rua para pegar a marginal e vir para Santos, quando avistei - lá do começo da quadra - três crianças e uma mulher. Eu sou desconfiado, já fui assaltado muitas vezes, e geralmente paro no meio da quadra e espero o sinal abrir. Mas hoje, filha, eu parei no sinal certinho, pois achei que eles iriam querer esmola, e eu tinha separado 20 reais para lhes dar. Quando eu parei, um dos menininhos apontou uma arma na minha cabeça, e os outros dois ficaram revistando o carro. O menininho que estava armado me pediu para descer, e eu disse que sou deficiente físico e o tempo que eu demoraria para descer do carro poderia chegar alguém e pegá-los, a mulher ficava gritando para o menino atirar, ela dizia: "ATIRA! ATIRA! ELE ESTÁ ESCONDENDO O DINHEIRO! ATIRA NA CARA DELE!", e eu estava tão chocado e não sabia o que fazer... Entreguei meus celulares, todo o meu dinheiro e eles se afastaram..."
Quando ele me contou eu fiquei estática, eu queria chorar, não pelo assalto, mas pelo medo. Eu estava sentindo o medo passando por cima da minha pele, ele me tocava em todas as partes que podia. Não tenho muitos medos, mas os poucos que tenho fazem meu coração parar de bater. Eu sentia que minha cabeça gritava quase explodindo, meu coração já havia ido parar na boca e haviam muitas borboletas sapateando em meu estômago.
"- Com certeza aquela vaca não era mãe daqueles garotinhos! Não tem como uma mãe fazer isso..." - meu pai xingou a mulher, ele realmente a odeia, deu para sentir. Meu pai raramente xinga, mas dessa vez não era uma xingamento simples, era uma expressão de ódio.
"- Depois passei em frente a um posto Ipiranga que estava na esquina oposta a do meu assalto e o frentista que viu tudo disse que eles ficam ali de 2 à 3 vezes por semana assaltando as pessoas! Voltei até a casa da filha do meu cliente para pedir dinheiro emprestado para pagar o pedágio... Parece que quando as coisas vão mal, Deus sempre dá um jeito de mostrar para nós que pode piorar!"
Foi assim que meu pai terminou de me contar o seu assalto.
Quando ele terminou pensei em como eu sou sortuda! Imaginem o que seria de mim se meu pai, meu herói não tivesse entregado o dinheiro àquelas crianças. Imaginem se as crianças seguissem o conselho daquela nojenta e atirassem na cabeça do meu pai!? Acho que eu morreria.
Mas como já diziam os sábios "Quando se está no fundo do poço a única saída que tem é por cima!"
É irritante e incompreensível como as pessoas fazem esse tipo de coisa! Quero dizer, com certeza a miséria nos deixa desesperados, mas ameaçar atirar na cabeça de alguém por causa de dinheiro, é simplesmente horripilante. Até porque, sabem que o povo brasileiro é bom, sabemos que as pessoas dão dinheiro para os pedintes no trânsito. Sei de casos que tiram 4 mil reais por mês só de esmola.
Dá raiva! Raiva da falta de segurança brasileira. Dá raiva, de como pagamos uma taxa tributária de 38,5% da nossa renda e ainda temos que sofrer esse tipo de coisa. Mas, aconteceu e, ainda bem, já passou. Espero que daqui só seja para melhor!
Desculpem o texto não interessante, mas meu coração falou para desabafar antes que meu peito ficasse pequeno demais para conter o meu medo.
Seja lá como for, as pessoas gostam de arranjar explicações para as coisas que acontecem. Por que chove, do que são feitas as coisas, por que existimos, gostamos de saber tudo. Mas algumas coisas não são fáceis de serem entendidas e, simplesmente não merecem o esforço da nossa compreensão.
Ocorre que pessoas (estou falando de mim, certamente) que têm tudo o que querem sempre dão um jeito de reclamar do seu excessivo conforto. E esse post não é uma reclamação. Talvez dessa vez eu cumpra as promessas que faço à mim sempre que posso. Sempre prometo muitas coisas à mim, mas não cumpro quase nenhuma delas, digamos que - quando se trata de eu prometer a mim - eu não consigo honrar as minhas palavras.
Prometo sempre: "Esse ano! É esse ano! Esse é o ano que eu vou estudar!" ou então "Esse ano terei uma vida mais saudável!", ou ainda "Eu prometo que vou parar de reclamar da minha vida!", essas promessas são as mais frenquentes que jamais cumpri, em 20 anos de vida.
Acontece que estudar e ter uma vida mais saudável é, obviamente, uma questão de esforço, o qual a minha preguiça ataca com unhas e dentes, atando meus braços e pernas para que eu JAMAIS me deixe cair na tentação. Agora a RECLAMAÇÃO, essa não é assim tão fácil. Como já diz meu pai "Reclamar é um vício!", e de fato é!
A minha vida sempre foi ÓTIMA, nunca passei fome; fico doente facilmente, mas por sorte, meu pai sempre teve dinheiro para bancar bons médicos e bons remédios para mim; sempre estudei em colégio particular e bons; sempre ganhei presentes o ano inteiro; sempre saí para onde eu quisesse; sempre esbanjei o suor do rosto do meu pai. Não me orgulho de ser assim, aliás, fui criada assim. Mas a minha "vergonha-na-cara" me permite ter a decência de retribuir todo esse esforço do meu pai, lhe proporcionando uma futura velhice confortável.
Mesmo com essa vida perfeita, cheia de familiares, amigos e tudo - ou muito próximo de tudo - o que quero, eu sempre reclamei. Reclamo porque meus familiares folgam comigo, e porque não me ouvem. Reclamo porque as coisas simplesmente não saem como eu quero, e porque odeio determinadas coisas. Mas ontem, ontem eu estava feliz. Ô! Como estava! Não tinha do que reclamar! Meu sorriso - que ia de orelha a orelha - era tão grande que meus lábios sumiam acima dos dentes amarelados e levemente entortados. E quando tudo vai muito bem, certamente algo irá piorar.
Meu pai chegou em casa, faltavam 20 minutos para meia-noite. Ele estava, visivelmente, cansado da viagem que teve de fazer à trabalho na cidade de Avaré no interior do interior de São Paulo. Ele sentou na sua cadeira de rodas estrategicamente posicionada em frente ao elevador e se arrastou até a sala, onde pude notar os olhos vermelhos chorosos e decepcionado. Fiquei olhando para ele, sem dizer nada, esperando ele começar. Logo ele estava falando:
"- Sabe filha, hoje me ocorreu uma coisa que, NUNCA, em minha vida eu achei que fosse acontecer..."
Quando ele disse essa primeira frase pensei "Fudeu! Meu pai matou alguém atropelado!", mas antes que eu pudesse dar um salto do sofá para acudi-lo ele retornou a falar e dizia:
"- Eu havia ido até o meu cliente em Avaré, e ele me perguntou se eu preferia receber em dinheiro ou em depósito, eu pedi em dinheiro, porque dá última vez ele teve problemas com o depósito. Bem, antes de sair de lá, ele me pediu que - no caminho de volta - passasse em na casa da filha dele em São Paulo para deixar com ela uma caixa... Bom, era caminho, eu disse que tudo bem, e fui deixar a caixa para a menina."
Doía cada palavra, eu sei que doía. Meu pai não uma pessoas transparente, ele sabe disfarçar os problemas, as tristezas. Ele - mesmo quando está perdido demais - não dá nenhum sinal do seu estado emocional, mas ontem estava visível.
"-Deixei a caixa na casa dela, virei numa rua para pegar a marginal e vir para Santos, quando avistei - lá do começo da quadra - três crianças e uma mulher. Eu sou desconfiado, já fui assaltado muitas vezes, e geralmente paro no meio da quadra e espero o sinal abrir. Mas hoje, filha, eu parei no sinal certinho, pois achei que eles iriam querer esmola, e eu tinha separado 20 reais para lhes dar. Quando eu parei, um dos menininhos apontou uma arma na minha cabeça, e os outros dois ficaram revistando o carro. O menininho que estava armado me pediu para descer, e eu disse que sou deficiente físico e o tempo que eu demoraria para descer do carro poderia chegar alguém e pegá-los, a mulher ficava gritando para o menino atirar, ela dizia: "ATIRA! ATIRA! ELE ESTÁ ESCONDENDO O DINHEIRO! ATIRA NA CARA DELE!", e eu estava tão chocado e não sabia o que fazer... Entreguei meus celulares, todo o meu dinheiro e eles se afastaram..."
Quando ele me contou eu fiquei estática, eu queria chorar, não pelo assalto, mas pelo medo. Eu estava sentindo o medo passando por cima da minha pele, ele me tocava em todas as partes que podia. Não tenho muitos medos, mas os poucos que tenho fazem meu coração parar de bater. Eu sentia que minha cabeça gritava quase explodindo, meu coração já havia ido parar na boca e haviam muitas borboletas sapateando em meu estômago.
"- Com certeza aquela vaca não era mãe daqueles garotinhos! Não tem como uma mãe fazer isso..." - meu pai xingou a mulher, ele realmente a odeia, deu para sentir. Meu pai raramente xinga, mas dessa vez não era uma xingamento simples, era uma expressão de ódio.
"- Depois passei em frente a um posto Ipiranga que estava na esquina oposta a do meu assalto e o frentista que viu tudo disse que eles ficam ali de 2 à 3 vezes por semana assaltando as pessoas! Voltei até a casa da filha do meu cliente para pedir dinheiro emprestado para pagar o pedágio... Parece que quando as coisas vão mal, Deus sempre dá um jeito de mostrar para nós que pode piorar!"
Foi assim que meu pai terminou de me contar o seu assalto.
Quando ele terminou pensei em como eu sou sortuda! Imaginem o que seria de mim se meu pai, meu herói não tivesse entregado o dinheiro àquelas crianças. Imaginem se as crianças seguissem o conselho daquela nojenta e atirassem na cabeça do meu pai!? Acho que eu morreria.
Mas como já diziam os sábios "Quando se está no fundo do poço a única saída que tem é por cima!"
É irritante e incompreensível como as pessoas fazem esse tipo de coisa! Quero dizer, com certeza a miséria nos deixa desesperados, mas ameaçar atirar na cabeça de alguém por causa de dinheiro, é simplesmente horripilante. Até porque, sabem que o povo brasileiro é bom, sabemos que as pessoas dão dinheiro para os pedintes no trânsito. Sei de casos que tiram 4 mil reais por mês só de esmola.
Dá raiva! Raiva da falta de segurança brasileira. Dá raiva, de como pagamos uma taxa tributária de 38,5% da nossa renda e ainda temos que sofrer esse tipo de coisa. Mas, aconteceu e, ainda bem, já passou. Espero que daqui só seja para melhor!
Desculpem o texto não interessante, mas meu coração falou para desabafar antes que meu peito ficasse pequeno demais para conter o meu medo.