"Acabou?", era um pensamento, certamente, apavorante.
"Acabou de começar", dizia se auto-reconfortando. "Acabou de começar", repetia inúmeras vezes, até que enfim absorvia e se acalmava.
É assim que fica meu coração cada dia que peso as coisas que quero fazer e aquelas que já fiz. Já dizia mamãe "duas medidas, dois pesos", não se pode comparar a vontade ao feito. Mas, sabem, não aprendo muito bem os ditados.
Entrei, quase que de supetão, em minha envelhecida e fraca memória - sabem, gosto de pensar que ela está gasta pelo excesso de uso, mesmo sabendo que não é verdade -, e vasculhei porta por porta, eram infinidades de inutilidades, montes e montes de cultura inútil acumuladas. Mas num cantinho escuro e embolorado, fora de todas as portas, em uma caixa de papelão um pouco destruída pela umidade, tinha algumas idéias, promessas, sonhos que precisavam ser lavados, secados, polidos e, enfim, guardados em prateleiras dignas de grandes obras de arte.
No meio dessas idéias, sonhos e promessas tinha um papel amarelado e enrolado, escrito com letras infantis diversas coisas a se fazer, a se ter, a se conquistar. Depois pude ver um pequeno caderninho, com letras já melhoradas pela prática de escrever, com outras listas, maiores e mais ambiciosas. Depois achei outro caderno, agora maior e com uma lista quase infinita e ainda mais ambiciosa que última. E por último um livro, grosso, com listas tão grandes que cansavam a vista, tinham letra mais legível e, as palavras utilizadas agora, mais madura e bem pensada.
Saí correndo pela porta dos fundos de minha memória, que passava pelo meu sistema límbico me arrastando pelo forte sentimento de vergonha e frustração. Pulei para fora de minha cabeça e fique me lamentando por dias a fio. Deixei a auto-piedade me acariciar devagar, mesmo sabendo o asco que sentia ao ser tocada por ela, deitei a cabeça sobre os seios do amor-próprio, deixando de ele me erguesse e me livrasse das falsidades incessantes da auto-piedade, senti que o amor-próprio empurrava, lenta e despercebidamente, aquelas mãos repugnantes que, aos poucos, sentindo que não era bem vinda, se afastou.
Logo o amor-próprio deu espaço para que o ego - o eu melhor que eu - levantasse minha cabeça e deixasse que algumas gotas de vigor tocasse minha pele em forma de raios solares. E pouco tempo depois, minha humildade - fiel companheira e prestimosa conselheira - me disse que eu já podia espalhar aos quatro ventos a minha terrível sensação de que tudo estaria acabado antes de cumprir a minhas promessas feitas a mim mesma, afinal se em 20 anos, nada fiz, o que me garante que viverei até os 50 para fazer algo?!
"Acabou?", pensava inevitavelmente, "Acabou?". Mas logo ecoava nas paredes dos ouvidos "Acabou de começar!"
"Acabou de começar", dizia se auto-reconfortando. "Acabou de começar", repetia inúmeras vezes, até que enfim absorvia e se acalmava.
É assim que fica meu coração cada dia que peso as coisas que quero fazer e aquelas que já fiz. Já dizia mamãe "duas medidas, dois pesos", não se pode comparar a vontade ao feito. Mas, sabem, não aprendo muito bem os ditados.
Entrei, quase que de supetão, em minha envelhecida e fraca memória - sabem, gosto de pensar que ela está gasta pelo excesso de uso, mesmo sabendo que não é verdade -, e vasculhei porta por porta, eram infinidades de inutilidades, montes e montes de cultura inútil acumuladas. Mas num cantinho escuro e embolorado, fora de todas as portas, em uma caixa de papelão um pouco destruída pela umidade, tinha algumas idéias, promessas, sonhos que precisavam ser lavados, secados, polidos e, enfim, guardados em prateleiras dignas de grandes obras de arte.
No meio dessas idéias, sonhos e promessas tinha um papel amarelado e enrolado, escrito com letras infantis diversas coisas a se fazer, a se ter, a se conquistar. Depois pude ver um pequeno caderninho, com letras já melhoradas pela prática de escrever, com outras listas, maiores e mais ambiciosas. Depois achei outro caderno, agora maior e com uma lista quase infinita e ainda mais ambiciosa que última. E por último um livro, grosso, com listas tão grandes que cansavam a vista, tinham letra mais legível e, as palavras utilizadas agora, mais madura e bem pensada.
Saí correndo pela porta dos fundos de minha memória, que passava pelo meu sistema límbico me arrastando pelo forte sentimento de vergonha e frustração. Pulei para fora de minha cabeça e fique me lamentando por dias a fio. Deixei a auto-piedade me acariciar devagar, mesmo sabendo o asco que sentia ao ser tocada por ela, deitei a cabeça sobre os seios do amor-próprio, deixando de ele me erguesse e me livrasse das falsidades incessantes da auto-piedade, senti que o amor-próprio empurrava, lenta e despercebidamente, aquelas mãos repugnantes que, aos poucos, sentindo que não era bem vinda, se afastou.
Logo o amor-próprio deu espaço para que o ego - o eu melhor que eu - levantasse minha cabeça e deixasse que algumas gotas de vigor tocasse minha pele em forma de raios solares. E pouco tempo depois, minha humildade - fiel companheira e prestimosa conselheira - me disse que eu já podia espalhar aos quatro ventos a minha terrível sensação de que tudo estaria acabado antes de cumprir a minhas promessas feitas a mim mesma, afinal se em 20 anos, nada fiz, o que me garante que viverei até os 50 para fazer algo?!
"Acabou?", pensava inevitavelmente, "Acabou?". Mas logo ecoava nas paredes dos ouvidos "Acabou de começar!"